31 de jul. de 2011

Cientistas no front

Cinco de dezembro de 2008 foi quando Edson (nome fictício) chegou de Fortaleza, sem avisar. Buscava desesperadamente uma cura para seu irmão com esclerose lateral amiotrófica, doença fatal caracterizada pela degeneração de neurônios motores e perda progressiva dos movimentos voluntários.
Conversamos longamente, expliquei que em todo o mundo as pesquisas estavam no início, que seria um enorme risco aceitar procedimentos que não passaram pelo crivo da comunidade científica, no mínimo um desperdício de recursos.
Durante a última década, milhares de pacientes com doenças graves, que não respondem aos tratamentos convencionais, saíram de seus países de origem atraídos pela promessa de cura a partir de células-tronco. Esse fenômeno, conhecido como “turismo de células-tronco”, expõe pacientes a procedimentos não regulamentados, perigosos e muitas vezes fraudulentos.
Clínicas surgiram na China, Rússia, Índia, Turquia, México e Alemanha para tirar proveito de pacientes desenganados. Anunciam na internet seus serviços diretamente aos consumidores, fazem afirmações exageradas sobre os benefícios, minimizam os riscos e cobram R$ 30 mil ou mais por cada “tratamento”.
Aqui uma informação extremamente relevante: testes clínicos são sempre custeados com dinheiro público ou pelas empresas envolvidas. Pacientes nunca devem pagar nada pelo procedimento.
Em 2009, a polícia húngara prendeu quatro pessoas que vendiam por 25 mil dólares "tratamento" com células-tronco. No Brasil, um caso marcante aconteceu há cinco anos, quando "células-tronco em pó" (na verdade, cartilagem de peixe) foram oferecidas a pacientes por médicos inescrupulosos. Os envolvidos foram denunciados, mas não sei se suas licenças foram realmente cassadas.
Nunca é demais lembrar que, salvo raras exceções – tais como a utilização de células-tronco da medula óssea no tratamento de leucemia –, a maior parte dos procedimentos ainda é experimental e seus riscos desconhecidos.

FONTE: http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/bioconexoes/cientistas-no-front

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