17 de jun. de 2012

"Pedirei para os dirigentes agirem rápido", diz garota que falará à ONU




A vida seguia tranquila na cidade de Wellington, Nova Zelândia, até que Brittany Trilford ficou sabendo de um concurso internacional com um prêmio pitoresco: a oportunidade de falar por três minutos a 130 chefes de Estado.
A estudante de 17 anos que sonha fazer biologia na França resolveu gravar um vídeo em casa e dizer o que pensa sobre o futuro que ela quer -- tema da competição idealizada pela Campanha Global por Ações Climáticas, que reúne 350 ONGs.
O vídeo atropelou os mais de 2.000 concorrentes e garantiu a Triford a vaga de "substituta de Severn Suzuki", a menina de 12 anos que calou o mundo com uma fala improvisada na Rio-92.
Em entrevista exclusiva, Brittany contou à Folha.com o que planeja dizer aos diplomatas no primeiro dia da Cúpula da ONU para o Desenvolvimento Sustentável. Brincou ainda, pedindo dicas de oratória. Mas a garota não está nervosa. "A oportunidade é tão incrível que fico muito mais animada do que tensa."
Folha - Como foi a sua decisão de participar do concurso para fazer o discurso na Rio+20?
Brittany Trilford - Recebi um e-mail sobre o concurso e pensei que tenho muito a dizer. Leio muita coisa nos jornais, vejo pobreza no meu país e quero dizer o que penso sobre isso. Então resolvi participar. Com esse vídeo, tive a oportunidade de falar o que penso. Mas quando fiquei sabendo que havia sido escolhida, fiquei em choque. Não imaginava que ganharia, eu estava pensando em aproveitar para postar o vídeo com os meus pontos de vista no Facebook.
Alguém a ajudou a escrever o que você falou no vídeo?
Não. Eu gravei um primeiro vídeo dizendo tudo o que pensava e ele estava com 20 minutos! Mas eu só teria dois minutos. Então eu destaquei alguns pontos que não poderiam ficar de fora e gravei de novo. Fiz sozinha no meu laptop com a minha câmera. Então mostrei a um amigo meu, que insistiu que eu deveria mandar para o concurso. Foi o que fiz.
O que você pretende falar no seu discurso na Rio+20?
Ganhei a competição com um discurso que saiu do meu coração e agora eu pretendo fazer o mesmo. É uma grande oportunidade e uma enorme responsabilidade. Quero dizer que os dirigentes precisam começar a fazer o que eles estão dizendo que farão. E precisam fazer isso logo. Quero mostrar a todos que o discurso que Severn Sukuzi fez há vinte anos continua valendo até hoje. Nada foi feito.
Como você está se preparando para falar?
Estou trabalhando no meu discurso e treinando. Eu falo muito rápido, preciso treinar para falar mais devagar. Também quero praticar a minha gesticulação. Você tem alguma dica de oratória? Se tiver, mande-me por e-mail! Preciso ser clara.
Você está tensa?
A oportunidade é tão incrível que fico muito mais animada do que tensa! [nesse momento a assessora da Campanha Global por Ações Climáticas interrompe a conversa para dizer que quando ligou para Brittany para contar o resultado, a garota ficou cerca de dez minutos comemorando ao telefone].
Qual é a sua opinião sobre o discurso da Severn Sukuki na Rio-92?
Ela é a garota que silenciou o mundo por seis minutos. E isso aconteceu antes de eu ter nascido. Já assisti ao vídeo dela muitas vezes. Tenho a impressão de que tudo o que ela disse coincide com os meus pontos de vista. Eu vou conhecê-la na Rio+20 e estou muito ansiosa. Um dia antes do meu discurso, no dia 19, vamos participar juntas de um evento paralelo [com a Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas].
Qual é a sua principal preocupação em relação ao futuro do planeta?
O futuro do planeta é a minha preocupação. Acredito que tudo está conectado: a pobreza, as mudanças climáticas, os desastres naturais. Tenho muitas preocupações. Mas quando vou dormir, sempre penso na mesma coisa: por que os líderes não fazem nada? Eles têm o poder para fazer algo e não fazem nada. As pessoas que estão guiando o nosso futuro não estão, de fato, liderando.
Você está otimista em relação à Rio+20?
Sim e não. No momento, o trabalho lento com o documento base [que está sendo discutido pelos representantes dos países para ser debatido na cúpula] me desanima um pouco. Mas eu estou aqui e vou falar aos líderes. Quero acreditar que o que eu falarei fará diferença e que de fato serei ouvida. Eu sou uma pessoa naturalmente otimista.
O que você faz para salvar o planeta no seu dia a dia?
Bom, eu por exemplo como comida orgânica -- apesar de não ser muito fácil encontrá-la no meu país. E só ando de bicicleta, o que é razoavelmente fácil em Wellington. Acho que todos podem fazer a sua parte para salvar o planeta.
Como é sua vida em Wellington?
A vida em Wellington é parecida com a vida no Rio porque a cidade é contornada por belezas naturais. Mas é uma cidade mais fria e bem menor: são 300 mil habitantes. A vida é tranquila por lá. Vivo em uma moradia estudantil. Meu pai mora em uma região produtora de uvas e minha mãe vive em Auckland. Eu estou na escola, gosto muito de estudar, especialmente línguas. Estudo francês há sete anos porque pretendo estudar na França, talvez na universidade.
O que você pretende estudar na universidade?
Quero fazer bacharelado em ciências ou em artes. Gosto de estudar ciências, línguas, culturas... Quem sabe não estudo português? (risos) Sou uma pessoa globalizada, especialmente para quem veio de Nova Zelândia -- que é um país pequeno e isolado. Eu sou muito curiosa, pergunto o tempo inteiro, quero saber tudo. Se não perguntamos, não teremos nunca as respostas.

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