A ciência parece finalmente ter conseguido uma vitória contra a dengue. Pela primeira vez, uma vacina contra a doença foi eficaz em testes com humanos. Em um teste clínico com mais de quatro mil pacientes na Tailândia, uma vacina experimental produzida pela farmacêutica francesa Sanofi Pasteur conseguiu se mostrar eficiente contra três dos quatro sorotipos da dengue.
Segundo a empresa, os experimentos mostraram que houve uma resposta imune para os quatro tipos, mas ainda não foi possível bater o martelo quanto à eficiência de um deles. O objetivo da fabricante é criar uma vacina que consiga imunizar contra todas as cepas virais. Os testes com a imunização nesse sentido continuam, e há um estudo ainda mais abrangente, com cerca de 31 mil pessoas de vários países, inclusive do Brasil, em andamento.
A nova vacina usa um vírus atenuado, mas ainda vivo. Uma vez no corpo, ele não chega a provocar a doença, mas gera uma resposta do sistema imunológico, que começa a produzir anticorpos. Se, no futuro, a pessoa for de fato infectada pela dengue, seu organismo já terá a defesa "memorizada", o que evitará o avanço do vírus.
Nos testes, a imunização é feita em três doses, que devem ser tomadas com seis meses de intervalo. Os resultados ainda são preliminares, mas já animaram os pesquisadores. "A dengue não tem tratamento específico ou remédio que consiga eliminar o vírus. Basicamente, são feitos cuidados para manter o paciente bem até que o ciclo da doença termine", diz a médica Rosana Richtmann, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI). "Por isso a vacina tem uma importância tão grande. Ela é algo que definitivamente nós estamos esperando há muito tempo", completa ela.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 220 milhões de pessoas -mais do que as populações de Brasil e Portugal juntas - são infectadas por ano pelo vírus. Dessas, quase 2 milhões, a maioria crianças, desenvolvem a forma hemorrágica, que é a mais grave e letal da dengue.
Cautela - Por enquanto, os dados do estudo foram apenas divulgados pela fabricante, e não estão publicados em revista especializada. Segundo a Sanofi, isso deve acontecer até o fim deste ano. A empresa também não informou quais foram os sorotipos com imunização eficaz. "A vacina é um grande passo, mas é preciso que ela funcione para os quatro sorotipos", diz Alberto Chebabo, infectologista do hospital universitário da UFRJ.
"O resultado, teoricamente falando, pode ser um risco aumentado de dengue hemorrágica, que acontece em geral quando a pessoa é infectada após já ter tido um outro sorotipo da doença. Se o paciente for contaminado pelo vírus para o qual não houve imunização e já tiver os anticorpos por conta da vacina, o efeito pode ser semelhante", avalia.
(Folha de São Paulo)
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